O Padre na Ressacada

Como o próximo jogo é só sábado,
E tudo continua, graças a Deus, calmo lá
para os lados da Ressacada,
vou aproveitar e contar pra vocês mais
um “causo” que aconteceu comigo.

Inauguração da Ressacada: 15/11/1983
Meu pai associou-se nas cadeiras,
duas, uma pra mim claro!
Mas no dia ele não pode ir, então fui sozinha,
peguei carona com um vizinho.
Quando chegamos ao início do Saco dos Limões,
ainda não existia a expressa sul, a fila estava ali,
nos esperando, paradona!
Ninguém tinha noção na época, das filas que provocariam
os jogos do Avaí na Ressacada e essa foi inesquecível.
A primeira fila para o jogo do seu clube, você nunca esquece!

Duas horas depois ...
Cheguei a bela Ressacada.
Estava linda, cheirando a nova,
lotação esgotada, sentei na minha cadeira numerada,
a cadeira do meu pai, ao lado, permaneceu vazia.
Antes do jogo inaugural, contra o Vasco da Gama,
o padre Pedro benzeu o estádio e assim o jogo pode
iniciar, estava tudo perfeito.
O padre então, se dirigiu para as sociais e adivinhem
onde ele sentou???
- Na cadeira vaga ao meu lado, claro!
Bem, a turma das redondezas ficou meio ressabiada,
afinal, um padre por perto requer controle sobre os palavrões
e xingamentos, inibição total.
Começa o jogo:
Vasco 1 x 0 Avaí, o Padre se mexeu irritado na cadeira, a turma ao lado calada.
Vasco faz o segundo gol, o Padre põe a mão da cabeça, a turma ao lado calada.
Vasco 3 x 0, o Padre fala no meu ouvido:
- “esse moreninho na lateral é muito ruim!”
A turma ao lado calada.
Vasco faz o quarto gol, o Padre fala alto:
- “esse neguinho da lateral é muito ruim!”
A turma ao lado olha para o Padre e concorda.
Vasco faz o quinto gol, o Padre grita na direção do gramado:
- “tira esse negão do time, ele é uma droga!”
A turma ao lado foi liberta, o santo sacerdote liberou todos,
palavrões e xingamentos ecoaram pelas sociais da novíssima Ressacada,
agora sim, eu estava num campo de futebol.
E o Padre?
Bem, o Padre xingou muito também, palavrões se disse,
disse baixinho, não ouvi nenhum.
Mas aposto que ele ouviu todos os meus.
Confessei depois!